10 de janeiro de 2009

A "Marmotagem"


Há poucos dias alguns filhos de santo retornaram do Mercadão de Madureira com jornais e revistas da nossa religião. Enquanto folheávamos todo aquele material, veio a pergunta: O que é isso? Isso é marmotagem? A princípio era bastante estranho: aquelas fotos mostrando principalmente festas de Exus de “famosos”. Algumas realmente pareciam alegorias ou mesmo nada se via. Ficamos intrigados com o que tais publicações nos apresentavam.

No momento respondi que apenas não sabia ao certo do que se tratava e em algumas realmente não pude conter o riso e todos achamos graça. Hoje, pensando mais um pouco sobre o assunto, vejo que o julgamento “marmotagem” pode não ser o mais correto.

Não sou uma profunda conhecedora de todas as nações do Candomblé. Fui iniciada em uma casa simples em que a mediada do possível e no devido tempo, fui apresentada aos mistérios da religião. Confesso que aprendi muito mas ainda ficaram umas lacunas, várias perguntas ainda ficaram sem resposta ou simplesmente com o “é assim por que tem que ser e pronto”. Por isso, sempre que posso, dedico meu tempo ao estudo da religião, seja com outros Zeladores, seja em livros ou até mesmo na Internet, porém com a ajuda da observação e do bonsenso ao meu lado. E assim, em casa nação pode ser de um jeito, o que não significa que esteja errado, ou mesmo que seja marmotagem.

Em conversas com outros Zeladores e vendo também o que se passava na Internet, percebi que cada qual leva a sua casa do seu jeito. Um princípio que aprendi com minha Zeladora (que também não é famosa nem tem antepassados famosos, mas com mais de 60 anos dedicados à religião) que devemos fazer nossa casa do nosso jeito. Nossa casa é o reflexo daquilo que somos e que devemos respeitar os fundamentos da religião, mas o exterior e as diretrizes da casa cabe a nós. E assim, cada casa com seu jeito, cada Zelador com sua mania e não quer dizer que o que é certo pra mim seja certo para todos.

Depois de um longo passeio pelo mesmo Mercadão, passei a olhar com olhos mais críticos os aparatos, ferramentas e roupas que lá são vendidos. Realmente, há tempos atrás tudo era muito diferente. Os paramentos muito mais simples, as roupas muito menos suntuosas e os igbás muito menos enfeitados. Porém, tem para todo preço, desde o mais caro: mais brilhante em pedrarias e etc aos mais simples em pura palha e chita ou em metal inferior. E assim, cada um dá ao seu santo aquilo que pode. Ou mais luxuoso ou mais simples, aquilo que seu dinheiro e sua vontade pode comprar, porém não podemos esquecer que o Orixá fundamentalmente é muito simples e que o exagero pode se transformar em adereço carnavalesco e que a vaidade é um dos venenos a espiritualidade..

Outro fato muito marcado nas fotos e por demais comentado foram os homossexuais. Os víamos em trajes de pombogiras e ciganas e todos muito enfeitados ou mesmo maquiados a pé do exagero. Não gosto de criticar a opção sexual de cada um, afinal se assim as natureza os fez, assim tenho que respeitar, mas é impossível não reparar que alguns ali aproveitavam-se de suas entidades para “mostrar-se”. Deixemos as vaidades de lado e demos aos “catiços” aquilo que eles querem, mas respeitemos os limites para não os tornar figuras caricatas ou motivo de escárnio de terceiros. E assim como os homossexuais são todos vistos sem diferenças em nossa religião, não deixem que se tornem motivos das criticas de perseguidores e preconceituosos.

Em alguns momentos com aquelas fotos, nos perguntávamos se a pessoa estava mesmo incorporada. Mas em foto é não é tão fácil avaliar isso, mas sabemos que não é raro encontrarmos pessoas fingindo trabalhar com o Santo (neste caso tanto com Orixá quanto com Exu). Isso é um mal que assola qualquer casa por mais exigente e responsável seja seu dirigente, sempre tem aqueles que tem tal postura. Em minha casa tive graves problemas com médiums que falsamente incorporados vitimaram-se com bebedeiras ou “passavam mal” por conseqüência dessas atitudes, mas felizmente a “Seleção Natural” os afastou e assim o faz em toda casa com um Zelador sério e comprometido com a religião.
E assim ao nos deparar com tais figuras talvez seja melhor além de considerar o que vemos vamos também nos preocupar com o que ouvimos, porque pode ser muito mais grave e lesivo.

Portanto, meus amigos, vamos rever nossos conceitos, reparar bem as fotos e vídeos que nos são entregues e não julgar a primeira mão como marmotagem. É certo que tem muita gente por aí “pintando e bordando” com a religião, mas não podemos desconsiderar que o que é bom para mim pode não ser para você e o que se faz em cada casa pode não ser de consenso geral, mas não significa que esteja errado. Não vamos nos preocupar em julgar os outros e sim em guardar e vigiar o trabalho que estamos fazendo. Vamos nos preocupar com aqueles que exploram os outros em nome do Orixá, com aqueles que mentem, vendem falsas esperanças ou mesmos violam o direito divino de todo Ser Humano, o Sonho. Vamos nos preocupar em fazermos um bom trabalho, sermos vigilantes com nossas ações para não cair nos erro daqueles que tanto nos julgam ou mesmo nos tornarmos exploradores da fé.

A justiça nos é um direito, mas justiceiros não. Vamos entregar aqueles que difamam a religião a quem é de direito pois suas ações serão devidamente cobradas.
Axé a todos!

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