Foi o pensando nos
afazeres para a próxima sessão que acabei por escrever este texto.´
Lembrei-me da minha consagração como Zeladora de Santo e dos
votos feitos naquela hora. Honrar meu Orixá, meu nome, minha Casa e minha Mãe
de Santo. Nessa hora a emoção foi tanta que não me dei conta da força daquelas
palavras, do quanto tudo isso proferido em voz alta diante de tanta gente
poderiam recair em minha mente tanto tempo depois.
No momento em que abraçamos essa vida religiosa apenas temos
em mente a responsabilidade. Apenas temos o discurso que ao entrar devemos
fazê-lo de forma consciente já que é caminho sem volta, entrou não pode sair
mais e por aí vai mas não pensamos que este caminho nos leva cada vez mais alto
e vamos agregando ainda mais responsabilidades com o passar do tempo.
Eu mesma pensava de deveria fazer corretamente minha parte,
estar pronta e a postos para os trabalhos seguir os preceitos e determinações e
tudo está ótimo. Quaisquer mais conhecimentos e as tais responsabilidades
ficariam ao encargo da Mãe de Santo, ela sim deveria pensar na gravidade das
coisas e trabalhos, nos detalhes e tudo mais. Não imaginava que eu um dia
estaria nesse lugar, pensando em coisas além do ir ou não ao terreiro.
Hoje eu tenho que pensar na Casa, nos detalhes
administrativos, no fundamento, nos consulentes, nos filhos de santo... ufa!!
Mas por que alguns filhos de santo não tem a mesma
preocupação? Por que alguns não buscam pra si
a obrigatoriedade da religião. Por que mesmos
alguns não assumem seus papeis na Casa
para a realização de um bom trabalho? Por que não fazem o juramento de honras
no momento que entram na Casa? Seria bom se colocássemos tudo no papel em duas
via assinado com firma reconhecida, mas não é assim que acontece.
Nessa hora vem o papo da hierarquia... mas isso não
significa leis autoritárias, apenas grau de formação diferentes, o que é outra
história.
Voltando aos fatos... só a Mãe de Santo se preocupa? Só ela
tem obrigação de ser e estar o tempo todo na Casa de Santo? Só ela tem que
preocupar-se com o trabalho que está sendo feito por ela e pelos seus?
Tudo isso me faz pensar: Será que quando filhos de santo
apenas pensamos na Zeladora como uma entidade? Será que filhos de santo não se veem como
companheiros na seara?Será que esquecem que a Mãe de santo é uma pessoa com sangue nas veias que ama, sofre, chora e
também sente dor de barriga? Será que
esta entidade Mãe de santo não merece que ainda como filhos de sua casa, todos
tenham a preocupação de onde e como levamos sua bandeira? Será que ela não se
cansa de ter apenas pra si a responsabilidade sobre o próprio nome, o nome de
sua Casa, daqueles que nela se abrigam?
Está na descrição do cargo ser apenas um suporte? Ser aquela
que está a disposição com seu conhecimento e tempo para atender e apresentar
soluções para todos os problemas? Zeladores são apenas aqueles que tem por
missão ensinar, encaminhar e estar sempre presente? Mas e o retorno? Qual é?
Onde fica?
É... muito a pensar e mais ainda fazer... o trabalho está aí...
são muitos os que precisam...mas vale a pena pelo menos colocar em discussão...
quem sabe no futuro quando os filhos de hoje serão então os pais, eles trabalharão
melhor seus relacionamentos na religião e consiguirão livrar-se das iras e
ingratidões e apenas saborear as delícias que os amores,também construídos em
sua casa, podem lhes dar.
Muito Axé para Todos!!!