29 de dezembro de 2008

Dia 6 de Janeiro



Desde cedo aprendi que era o dia de desarmar a árvore de Natal e guardar os enfeites. O dia em que os três Reis Magos (Gaspar , Belchior e Baltazar) chegaram para conhecer o menino Jesus recém-nascido e entregaram seus presentes.Mas de uns anos pra cá, este dia passou a integrar me calendário de forma especial.

Conheci a tradição da epitania ou bifana ou como a tradição italiana a chama: La Befana. A Bifana, segundo a lenda, era uma velha que, no dia de Reis, saía pelas ruas da cidades a entregar presentes aos meninos que tivessem sido bons durante o ano que findara. Estava intimamente ligada às tradições dos povos mediterrâneos e mais próxima do significado litúrgico das festas natalícias. Os presentes eram somente dados no dia 6 de janeiro e nunca antes. Com a influência francesa e inglesa a Bifana foi substituída pelo Papai Noel.

Também aprendi sobre o Bolo de Reis. A história conta que os três Reis Magos foram visitar o Menino Jesus, mas quando estavam perto de Belém eles queriam decidir quem iria dar primeiro o presente ao Menino Jesus. Vendo a dúvida dos Reis Magos um senhor decidiu fazer um bolo e colocar dentro uma fava. Esse bolo seria dividido em três pedaços e quem ficasse com a fava seria o primeiro a entregar a oferenda ao Menino Jesus. E assim foi feito.A partir daí esse bolo ficou conhecido como Bolo dos Reis Magos, ou ainda como Bolo-Rei, e passou a ser utilizado sempre que era necessário escolher um rei. Por isso, o Bolo Rei tem a forma de uma coroa e a côdea simboliza o ouro, o miolo a mirra e o aroma o incenso, simbolizando assim os presentes oferecidos pelos Reis Magos ao Menino Jesus.

Esta delicia, leva frutas cristalizadas, uvas passas, nozes, amêndoas picadas e dois mimos: uma fava e um presente. Ambos portam presságios ingênuos - e não são para comer. Quem receber a fava na sua fatia de bolo, terá sorte no ano e pagará o Bolo Rei do próximo 6 de janeiro. Quanto ao presente, habitualmente um rei ou uma rainha de louça, trará riqueza a quem o encontrar. Caso seja uma aliança, a pessoa casará brevemente.

Uma senhora portuguesa que conheci há algum tempo sempre contava sobre a tradição da “roupa-velha”.A origem não é clara, mas tem o seu nome no aspecto que dá quando é apresentada à mesa. Uma amálgama de cores e pedaços de comida todos envolvidos uns com os outros, tendo o bacalhau formas de pedaços cortados ao acaso com as mãos, como se acabasse de se rasgar.

A "roupa velha" começou por ser um prato feito com as sobras da refeição da ceia das véspera de Natal. Como na ceia de Natal se comia bacalhau cozido com batata, couve penca e às vezes nabos e ovos cozidos, no dia de Natal o que sobrava era aquecido em azeite a que se juntavam alguns dentes de alho e cebol, às vezes tomate). Logo que o azeite fervia e tomava o gosto do alho juntavam-se os vegetais e o bacalhau lascado e deixava-se aquecer um pouco, mexendo sempre mas com cuidado.Punha-se tudo numa travessa e decorava-se com os ovos cozidos esfarelados ou em rodelas e azeitonas pretas.

Juntando todas essas tradições com a nossa religião, fiz desse dia um dia peculiar. Dando o fato que 6 é o número do odú da riqueza, Obará, e que canja de galinha e simpatia nao fazem mal a ninguém, reuni tudo em um dia e tornei-o inigualável.

Neste dia, uno também as simpatias com a romã, afinal não faltar dinheiro na carteira o ano todo é o desejo da maioria, não deprezo também essa tradição. Pegue uma romã e retirar 9 sementes pedindo aos 3 Reis Magos, Baltasar, Belchior e Gaspar que nesse ano que se inicia você tenha muita saúde, amor, paz, dinheiro. Depois pegue 3 das nove sementes e guarde num saquinho, papel, o que der. Essas sementes ficarão dentro da carteira para nunca faltar dinheiro. As outras 3, você engole e as últimas três que sobraram você joga pra trás fazendo o pedido que desejar.

Deste modo, o dia de Reis tornou-se um dia de práticas positivas, especialmente junto à família e amigos. Deste modo, sempre aconselho aos filhos de minha casa que sigam as tradições que lhes bem vier, façam simpatias que acharem por bem e coloquem em suas mesas cestas com frutas e muito trigo para Obará, façam um bom defumador e soprem muita canela em pó em suas casas. Mas sempre com o pensamento em coisas boas para o ano inteiro.

Axé a todos e um excelente ano de realizações.

26 de dezembro de 2008

Águas de Oxalá


Uma das festas mais famosas na Bahia é a lavagem da escadaria da Igreja de N.Sr. do Bonfim na segunda-feira após o dia de Reis, 6 de Janeiro. Baianas vestidas a caráter saem em procissão por 8 km da Igreja de N. Sra. da Conceição da Praia até a Sagrada colina para render homenagens a Oxalá.

Contam alguns que um capitão da marinha português, Teodosio Rodrigues de Faria, levou à Bahia uma imagem de Jesus crucificado durante a Páscoa. Nove anos depois a igreja de N. Sr. do Bonfim foi inaugurada e recebeu a escultura que estava na capela de N. Sra. Da penha. Muitos fies passaram a fazer Romarias todos os anos até que se instituiu a festa.

Os romeiros, vindos de todas as partes, acendiam fogueiras nas ruas, cantavam e dançavam, banhados em vinho e aguardente. Pela manhã, eles lavavam a igreja com água que pegavam numa fonte na Baixa do Bonfim. A tradição de lavar a igreja com água-de-cheiro nasceu no século XIX. Era trabalho dos escravos, que limpavam o templo católico, preparando-o para a festa em homenagem ao Cristo crucificado.
Outros dizem que a tradição se inicio com a promessa de um soldado português que ao retornar da guerra, cumpriu o sacrifício lavando a entrada do santuário. A exemplo dele, outros pagadores de promessa adotaram esse ritual.

Em 1889, a lavagem foi proibida pela Arquidiocese de Salvador e só voltou a ser realizada em 1950 com as filhas de santo do candomblé. Desde então, baianas vestidas de branco, a cor de Oxalá, repetem o trabalho que era feito por escravos.

Com potes de barro com a água de cheiro, nos ombros,caminham até a igreja. trata-se de um ato de respeito. A água de cheiro é uma mistura de seiva de alfazema e água de flores é preparada na noite anterior e repousa no Axé, servindo para “batizar” baianos e turistas durante a lavagem da igreja.


Esta fabulosa festa revive um belo mito africano. Oxalá sente saudade do seu filho Xangô, rei de Oiô e vai visitá-lo. Para obedecer à previsão do destino (Orumilá), vai de branco e em silêncio absoluto. No meio do caminho, Exu lhe pede que o ajude a levantar do chão um pesado saco de carvão e depois um barril de azeite de dendê. Oxalá o faz. O saco estava furado e o barril também se derramou sobre Oxalá que suja toda sua roupa branca. Chegando ao reino do seu filho, Oxalá, todo sujo, é confundido com um bandido e é jogado na prisão por sete anos.

Neste tempo, o reino de Xangô enfrenta muitos problemas e um babalaô lhe diz que o reino passa por tantas adversidades porque o rei compactua com injustiças. Xangô vai então às prisões para averiguar se há injustiças e descobre entre os presos o próprio pai. Triste, coloca o velho pai em suas próprias costas e o conduz ao palácio onde ele mesmo se encarrega de banhá-lo e vesti-lo com as roupas mais brancas que existem, realizando a seguir uma grande festa em sua homenagem. A festa das Águas de Oxalá, com uma procissão representando a viagem de Oxalá,
rememorando este episódio.

Em respeito a esse Orixá Maior, divindade do branco e da fecundidade, é que na primeira sessão do ano, nosso Ilê realiza este ritual, celebrando a criação do Mundo e do Homem e o renascimento contínuo, o nascer de um novo ano, de novas esperanças e pedindo a purificação e a paz.

Assim, abrimos o ano litúrgico da casa com todos os filhos e convidados vestidos de branco e entoando os cânticos, refletindo juntos sobre a justiça e a tolerância e prontos a receber os Axés dos Orixás.

18 de dezembro de 2008

31 de Dezembro - Culto a Iemanjá

Se formos à praia na manhã do primeiro dia do ano encontraremos na areia flores, velas e, não raramente, perfumes, pentes, espelhos e outras coisas que foram jogadas ao mar, na noite anterior, por devotos de Iemanjá. Não sabemos muito bem onde e quando começou esse costume, mas sabemos que ele surgiu no meio afro-brasileiro, que teve uma grande difusão no Rio de Janeiro na década de 1950, que foi e continua sendo muito incentivado pela Umbanda.e se tornou tradicional em muitas cidades brasileiras.

Hoje, a noite de Iemanjá transformou-se num show promovido pela TV e outros meios de comunicação, atraindo grandes multidões, que se movimentam e comprimem em tumulto. Em diversas praias, à meia noite, espetáculos pirotécnicos são realizados por grandes hotéis e firmas comerciais. Sucedem-se por toda a parte, perigosamente, os estouros ininterruptos de morteiros de mão, acesos por populares.

As homenagens feitas na praia à Iemanjá no dia 31 de Dezembro não têm a intimidade habitual dos rituais da religião afro-brasileira e, talvez, por isso mesmo, não conseguem, geralmente, mobilizar os terreiros mais antigos e tradicionalistas. Nesta data , a praia fica repleta de pessoas que não têm ligação com os terreiros que estão fazendo suas oferendas, que têm pouca ligação com a religião afro-brasileira ou que desconhecem o significado do que ali está sendo realizado pelos devotos. Muitos terreiros, para evitar aquela situação e/ou para fugir ao congestionamento de trânsito e dificuldade de estacionamento que costuma acontecer naquela ocasião, preferem levar seu presente para Iemanjá bem antes da meia noite ou procuram entregá-lo em uma parte da praia menos disputada Alem do que o Réveillon que, ao contrário do Natal, costuma ser uma festa mais profana do que religiosa, ser realizada fora de casa (em clubes, bares e outros locais públicos recreativos). Costuma ser também uma festa muito alegre, onde se faz uso de roupas luxuosas, de bebidas alcoólicas.

Para evitarmos misturar o profano com o sagrado, constrangimentos desnecessários ou mesmo podermos aproveitar a noite de festa preparada para comemorar novas esperanças é que em meu Ilê cultuamos a Divindade dos Mares, a Grande Mãe de quase todos os Orixás no dia 2 de Fevereiro, quando levamos nossas oferendas, geralmente flores, velas, sidra, arroz e o manja, além de perfumes e jóias. Entregamo-nos também neste dia e, longe da baderna e tumulto, nos concentrarmos em nossos pedidos, em nossa obrigação.

Não discutirei o fato daqueles que preferem a noite de Ano-Novo, já que como eu já foi dito, comemoram-se as novas esperanças, as renovações. Porém sejamos práticos, não é a melhor noite para os cultos espirituais dados os dias de hoje. Mas àqueles que assim o querem: Axé. Vão em paz, com fé e amor no coração pois com certeza Iemanjá os escutará.

8 de dezembro de 2008

Mundo Pequeno

Há poucos meses, surgiu um ato de insurreição em meu Ilê. Um grupo amotinado liderado por uma “Distinta Senhora”, voltaram-se contra mim por causa pouco louvável nada relacionada a casa.

Hoje, esta pessoas, não satisfeitas em terem saído da casa pelo portão dos fundos, desperdiçam seu tempo a falar mal de mim e daqueles que permaneceram.

A estes indivíduos e em especial a sua líder, que não tem coragem em me olhar nos olhos e dizer o que realmente pensam, escrevi esta carta.

“Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 2008.

Senhores

Infelizmente tem vindo a mim as atrocidades que V.Sas. Tem falado sobre mim. Sinto muito escutar tais barbáries mas não me espantam levando em conta de quem vem.

Em minha casa lhes ofereci amizade, confiança, caridade e tudo mais que meu coração podia oferecer, mas não foi o suficiente, V.Sas. exigem mais. Muito mais não posso dar-les pois sou um ser humano imperfeito e limitado, mas fiz o que pude.

Soube que gastam seu tempo sem proveito algum em bebedeiras e fofocas apostando quanto tempo minha casa ficará aberta (apostas é bem do seu feitio) e a falar de mim. Realmente, em parte tem razão, não sou “mãe-de-santo”, sou Zeladora de Santo. O Santo é que é meu pai, no caso Oxum é minha mãe. Eu zelo. Eu sou do Santo. Não vivo do Santo, vivo para o Santo.

Deste modo, Senhores (e em especial “Notável senhora”) uma vez que resolveram deixar minha casa do modo como fizeram, sigam seus caminhos em paz e arquem com as conseqüências de seus atos que eu continuo em minha seara.

Minha casa será sempre como tem sido: simples e democrática. Não preciso enchê-la mesmo com os desafetos ou pessoas das quais resolvi me separar para mostrar a todos o quanto sou querida. Aqueles que ficara, assim o fizeram por vontade e sem pressão ou mesmo chantagens ou promessas de carnavais.

Portanto caminhem em paz e que Obatalá tenha misericórdia de todos. Que minha mãe Oxum me ilumine sempre com sua beleza e fortuna para continuar, já que me ofereci a caridade também devo estar pronta para a ingratidão.

Elani d’ Oxum”

Aos que hoje se mantém ao meu lado, beijos em seus corações e que Oxalá os abençoe sempre.