18 de março de 2009

O Dinheiro


Discutir a questão do dinheiro em Terreiros é sempre uma grande polêmica. Para muitos quebra a noção de caridade, para outros uma necessidade.

O dinheiro nos Terreiros de Umbanda ou Candomblé tem muitos nomes diferentes, mas em todos a mesma finalidade, a manutenção. Como manter uma Casa aberta sem dinheiro? A Cedae ou a Light não reconhecem que nesses lugares está sendo praticada a caridade e como em qualquer lugar, cobra mensalmente os gastos.

É muito difícil encontrar casa cujo dirigente a mantém do seu próprio bolso. Para os trabalhos que são realizados, além do fundamental para qualquer casa como água, luz e gás, precisamos de velas, charutos, bebidas, ervas, bichos e etc.

Antigamente, tudo era produzido dentro do terreiro. A água era proveniente de poços artesianos, os trabalhos completamente feitos a luz de velas feitas com cera no barracão, as comidas eram cozidas em fogões de lenha, as ervas plantadas em um canteiro e os bichos criados a solta no quintal. Hoje é tudo muito diferente. Os espaços são outros e no ambiente urbano, torna-se cada vez mais difícil manter tais tradições.

E por falar em ambiente urbano, torno-se cada vez mais comum os Terreiros ocuparem espaços alugados. Os espaços estão cada vez menores e mais restritos. Foi ficando cada vez mais óbvio que modificações e adaptações eram necessárias para a manutenção de um Terreiro.

Para a Casa funcionar, pagando aluguel, contas e as necessidades básicas, tornou-se cada vez mais comum o pagamento de mensalidades e a cobrança do jogo e de trabalho as clientes. É preciso colocar dinheiro na casa para ela funcionar e deste modo dividir a responsabilidade do funcionamento com os participantes como também com os freqüentadores.

Mas não podemos esquecer que Zelador de Santo não vive de luz, ele também come, muitos também pagam passagem, tem família e para dedicar seu tempo a religião, a parte material de sua vida também precisa de suporte. Nestes casos, vamos pensar juntos no quanto é justo e necessário o pagamento de taxas e dos trabalhos nas casas de santo.

Infelizmente, a dignidade do pagamento está corrompida. É muito comum encontrarmos pessoas com estórias de exploração ou até extorsão. A cada dia crescem fatos de pessoas explorando a fé e a necessidade do próximo. São crescentes os números de falsos pais/mães
de santo com seus anúncios prometendo coisas que só Deus tem como resolver.

Por isso caros amigos, defendo a legitimidade dos pagamentos. Devemos sim cobrar por serviços prestados e pelo tempo dispensado a clientes e filhos. A Casa precisa sobreviver, pagando suas contas e com o material necessário aos trabalhos, porém tenhamos bonsenso e parcimônia ao cobrar. Vamos por na balança a caridade e as necessidades e avaliar um ponto em comum com a cobrança.

E àqueles que estão do outro lado, antes de entregarem seu Owo, verifiquem primeiro o que está em questão. A necessidade do caso, a disponibilidade, a reputação de quem esta a sua frente. Sei que diante do desespero e da aflição é difícil julgar, mas está aí o ponto onde os exploradores entram. Mas mesmo diante da adversidade, ponham também a fé. Não vejam os casos com o coração fechado e nem com a mão totalmente aberta. Procurem observar e analisar. Deste modo, você não será cobrado injustamente e/ou não deixará de também de ajudar a casa que o acolhe.

Axé a todos!