7 de fevereiro de 2009

A Quarsema


São comuns as dúvidas sobre a Quaresma. Então fica aqui um pequeno resumo e onde nos enquadramos nela.

A Quaresma, como o próprio nome revela, é um período de 40 dias que começa na Quarta-feira de Cinzas, após as festas ditas profanas (Carnaval) e termina no Domingo de Ramos. A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, é falada dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública. Tal período litúrgico, afirmam alguns, se consolidou no final do século III, tendo sido citado no 1o Concílio (Assembléia) Ecumênico de Nicéia, no ano 325.

Este período tem como finalidade, segundo os católicos, preparar o indivíduo, mediante processos de conversão e penitência, para a expurgação de influências carnais e mundanas e a absorção de valores sagrados submetendo-se a um recolhimento espiritual simbolizado por diversas proibições e sacrifícios para lembrar as tentações vividas por Jesus Cristo que culminaram na sua crucificação na Sexta-feira Santa. É também neste período que os altares e capelas são cobertos com panos roxos s silêncio é guardado em sinal de respeito a dor de Maria por seu filho.

Não obstante respeitarmos esta prática religiosa, própria dos católicos, sabemos que tal habitualidade pertence ao catolicismo porém revendo a História, nossa colonização e sobretudo o capitulo da Escravidão, vemos que o calendário litúrgico cristão foi imposto ao negro. E neste período toda atividade alegre cessava e os Terreiros que funcionavam escondidos, temendo represálias por serem descobertos, cessavam suas atividades.Portanto é por tradição fechar os terreiros durante a quaresma.

Para a nós é uma época em que também cobrimos os nossos orixás, isto é, eles não incorporam . Somente os Pretos-velhos e Exus trabalham. Em alguns terreiros admitem-se os trabalhos dos boiadeiros. Como os orixás não incorporam o momento é de vigília constante, introspecção e uma ótima oportunidade para o médium refletir sobre tudo em sua vida material e espiritual.

Materialmente falando é um momento que tratamos da parte física da Casa como pinturas, pequenas obras e etc, além do descanso àqueles que ao terreiro se dedicam, bem como uma preparação para o ano de trabalho que se segue. O que para muitos pode ser um equívoco ou mesmo demonstração de desconhecimento, para nós é um período em que o trabalho não cessa, apenas se restringe.

Os trabalhos voltam ao normal na Sexta-feira da Paixão que é vista por muitos como um ‘dia de queimação’ por conta da crença de que as trevas sobrepujam a luz, tornando-nos vulneráveis. Em nossa casa os médiuns ficam recolhidos em vigília, passam pelo ritual da cura para o fortalecimento do ori e fechamento do corpo, respectivamente. Faz-se também uma mesa branca para Oxalá com canjica, acaçá etc. Todo comem juntos e partilham também o trabalho de limpeza do terreiro em memória da Última Ceia. O sincretismo reforçou o dia de culto a Oxalá na Sexta-feira.

No sábado de Aleluia festeja-se “a volta dos caboclos e dos Orixás”. Utilizamos a partir do Domingo de Ramos (início da Semana Santa) as amarras, o contra-egum, trançados de palha da costa atados aos braços, tornozelos e cintura (umbigueiras) com a função de afastar os espíritos baixos e usamos o branco em homenagem a semana dedicada a Oxalá. È neste dia que oficialmente começamos os trabalhos espirituais com uma gira de abertura e o trabalho com os Exus (neste dia de branco em respeito a Oxalá) pra limpeza espiritual da casa e de todos que lá são acolhidos. Vulgarmente dizemos que também “Malhamos o Judas” com trabalhos para afastar e desfazer possíveis malefícios feitos contra nós.O Domingo de Páscoa é voltado às confraternizações com nossas famílias e amigos.

Portanto apesar destas datas comemorativas estarem especificamente intrincas a religião católica, nós também nos vemos ligados a elas por tradição ou mesmo motivos comerciais (Páscoa – Ovos – Coelhinho) ou quaisquer outros, porém nosso trabalho está ligado aos valores no qual o nosso compromisso com a caridade, com o bem e principalmente com próximo não cessam em época alguma. Estamos sempre a postos e vigilantes e sobretudo preparados a ajudar a quem quer que seja.

Que Oxalá os abençoe.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito interesaante e claro . Obrigada .