5 de abril de 2011

Miopia


Tá lá no dicionário: Miopia (s.f)- Anormalidade visual cujo resultado é a má visão a distancia. Eu sou míope, isto é, tenho miopia e convivo bem com ela desde que não tire os óculos. Acho que sou assim para que com o passar do tempo, eu aprendesse a conviver com a limitação visual e a necessidade dos óculos me dispondo ser mais atenta e menos vaidosa.


Com a experiência, vou tentando ver além daquilo que a minha visão turva me proporciona. Esforço-me para que eu não me limite ao que está próximo de mim e ainda menos unicamente para mim. É consideravelmente difícil tentar perceber o mundo a mais que a vista alcança.


Dentro da vida espiritual e do compromisso sacerdotal que assumi, venho tentando disseminar a idéia de que devemos a todo instante nos libertar do Eu e ver no outro um pouco mais. Tento passar àqueles quem convivo que 5 minutos de observação e um pouco de carinho no coração podemos perceber mais que o aparente. Ver que sorrisos nem sempre estão assim tão abertos, que olhares escondem dores, que abraços podem ser um pedido de socorro ou apenas o alívio que só a amizade pode dar.


Mas infelizmente muitos ainda não se dão conta que muito mais grave que miopia física, a miopia espiritual, a miopia de suas almas os assola. Recusam-se a ver além daquilo que lhes é mostrado e que somente com os olhos da alma podemos ver e que nem mesmo fazem questão de perceber o próximo por estarem profundamente míopes ou até mesmo cegos pelo egoísmo.


Ajudar, fazer caridade vai além do material. Doar, ofertar, oferecer, presentear de nada vale se bons sentimentos não estão no ato. Em muitos momentos, mais vale a presença amiga, o olhar de apoio e aprovação que presentes. Na minha miopia me preocupo em não me atrapalhar entre os momentos de oferecer o tangível com o de doar o coração.


Todo o tipo de pessoa procura a Casa de Santo com todo o tipo de problema. Uns mais, outros menos, mas cada um com suas necessidades. Não nos cabe julgar o grau desta necessidade, apenas temos de fazer ao máximo para saná-las e fazer com que este saia fortalecido ou pelo menos esperançoso.


Mas esta caridade não pode limitar-se as giras no Terreiro. Devemos também nos ocupar com esta atividade caritativa também com nossos irmãos de santo, familiares e amigos, ou seja, é um exercício diário. Também temos nossos problemas, mas não podemos limitar nosso olhar a eles e ver que o irmão próximo pode estar a nos pedir ajuda no olhar ou a camuflar seus próprios dissabores. Não podemos nos colocar míopes e sobrecarregar outrem com questões que penas nós podemos solucionar.


Sim, o indivíduo se presta a caridade, porém pode ser ele quem está precisando da nossa ajuda. Vamos olhar mais nos olhos do outro e ver que ele talvez esteja estendendo a mão não só para se oferecer em caridade e sim em um silencioso SOS. Tentemos um pouco mais estar presentes nos momentos importantes dos nossos irmãos, mostrando pra ele que estamos ali com alma encharcada de amizade.


Com isso, caros, proponho que nos livremos da nossa miopia e arregalemos os olhos para o nosso redor. Proponho colocarmos nossos problemas a serem apreciados na pauta do dia mas não negligenciar disfunção alheia.


Tarefa difícil, mas não impossível. Tentando um pouco por dia, com tolerância, com compaixão, com muito carinho e um pouco de delicadeza talvez fique mais fácil e nada enfadonho.


Muito Axé a Todos!


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